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O DILEMA DE DEUS, POR HELENA PETROVNA BLAVATSKY | ("Os Manuscritos perdidos da Loja Blavatsky")

O DILEMA DE DEUS, POR HELENA PETROVNA BLAVATSKY
("Os Manuscritos perdidos da Loja Blavatsky")

Sr. Holt: – Poderíamos passar à segunda parte da pergunta e perguntar se esta matéria nas suas várias formas é contactável em qualquer Plano, supondo que possuímos os sentidos requeridos? Supondo isso, a pergunta é: será que temos os sentidos relativos a tal, inclusive no Nirvana?
Sr.ª Blavatsky: – Bem, certamente que se tem como efeito nirvânico, porém chamam-no de Nirvânico. O que significa isto? Significa uma “chama apagada” – Nir-vana, nada mais, nada. É como um vento que passa e apaga tudo. É uma completa desaparição de toda a matéria que conhecemos na Terra. Não só da matéria como também dos nossos atributos, funções, sentimentos, tudo. Nada disso pode ir ao Nirvana. Portanto, eles entenderam mal o tema e dizem que é a aniquilação, o que é um perfeito absurdo.
Sr. Holt: – Porém ainda se conserva a consciência individual, não é assim?
Sr.ª Blavatsky: – Não a consciência individual presente e sim a Consciência Universal, da qual aquela é parte. Vejam como é algo completamente diferente. Quando se chega ao Nirvana absorve-se no Todo, no Absoluto.
Sr. Gardner: – Mas ao mesmo tempo é diferente.
Sr.ª Blavatsky: – O Absoluto se diferencia? Meu Deus!
Sr. Holt: – Então, o que é o Paranirvana?
Sr.ª Blavatsky: – O Paranirvana difere do Nirvana por se estar no Absoluto, que está justamente por detrás do Plano onde começa a diferenciação. O Paranirvana é algo que está mais além da Meta, do qual não se sabe nada. Vai-se do Nirvana até um novo Maha-Manvantara, onde está o Paranirvana. Então é o fim de tudo, e ninguém jamais calculou o que será isso depois disto. Filosoficamente, esta é toda a diferença.
Sr. Holt: – Qual o nome budista do estado em que a consciência individual se manifesta primeiro, surgindo do Nirvana para o Plano da Matéria?
Sr.ª Blavatsky: – Não entendo o que quer dizer.
Sr. Holt: – Você disse que a consciência individual é aniquilada, excepto no que seja preservado no Absoluto. No que respeita à Individualidade, os Filhos do “Eu sou”, que estão separados do Absoluto, são aniquilados no Nirvana?
Sr.ª Blavatsky: – Certamente são aniquilados. O “Eu sou o que sou” quer dizer Eu sou Tudo, Eu sou Absoluto. Se isto não é velho, mas é o mais bendito que houve e haverá, então para quê isso? Vocês fazem uma ideia da Absolutez.
Sr. Holt: – A identidade funde-se no Absoluto?
Sr.ª Blavatsky: – Na nossa concepção, ela já não existe, porém identifica-se. Este é um problema metafísico muito abstracto. Devem entender isto: se concebem a Deidade como a Absolutez ou se concebem a Deidade com Atributos, que então não poderá ser infinita, mesmo sendo eterna, porque teve um começo e terá um fim. Assim são os Deuses Manvantáricos, que duram um Ciclo de Vida. O Absoluto é aquilo que, pelo menos para as nossas mentes, Imutável, que nunca teve um começo nem terá um final, que é Omnipresente, que é absolutamente Tudo. E quando dizemos que o Absoluto é Inconsciência Absoluta, absolutamente sem nenhum desejo, sem nenhum pensamento, é porque nós queremos e devemos dizer que é Consciência Absoluta, Desejo Absoluto, Amor Absoluto, Todo Absoluto. Agora vejam quão difícil é conceber isto. Aqueles que foram educados numa teologia que limita e condiciona tudo, reduzindo até as maiores coisas do mundo, e aqueles que, como os homens de ciência, só acre-ditam no limitado e condicionado, nunca poderão conceber nada que não seja isso. Portanto, o Ocultismo deve lutar com a Ciência e as teologias mais materialistas. Se o homem de ciência aferra-se ao seu departamento, faz o seu trabalho e diz: “sou incapaz de entender ou acreditar, aferro-me só ao que me mostram os meus cinco sentidos”, já os teólogos ao mesmo tempo que afirmam que Deus é infinito, Deus é eterno, Deus é misericordioso e justiça absoluta, dando-lhe atributos totais, fazem com que o seu Deus seja vingativo e cometa erros, que se arrependa de ter feito o Homem, fazendo toda a espécie de coisas, e não obstante chamam-no absoluto e eterno. Isso consegue então ser terrível, completamente afilosófico e ilógico, sem pés nem cabeça, como uma perfeita e completa contradição de tudo. Se quiserem tomá-lo no sentido filosófico, têm de tomar a forma vedantina de ver as coisas, mas se vão com os teólogos do Ocidente estarão perdidos.
Sr. –: – Esses são arranjos da verdade.
Sr.ª Blavatsky: – Não são, porque se pode fazer o mesmo que fazem na Índia, pois há ajustes para as mentes dos pobres hindus que são ignorantes, mas não possuem essas contradições. Eles falam de Deus. Um adorará a Vishnu, o outro a Shiva e o outro a quem quiser, mas nunca dirão que esses Deuses são eternos e que nunca tiverem um começo ou um fim. Dirão que os Deuses morrem, que Brahma no final do Manvantara entra em Pralaya e só fica o que não tem nome, a quem chamam de “Isso”. Porque eles dizem: “não lhe podemos dar um nome, é Isso que sempre foi, é e será e não pode ser”. Vê-se então quão filosóficos são, muito mais filosóficos do que nós somos. Eu nem sequer consigo entender Herbert Spencer quando fala da Deidade, quando ao chamá-la de “Primeira Causa” chamam-a a “Causa Suprema”. Como é possível?
Sr. –: – Estão tentando compreender coisas muito além do plano das suas capacidades.
Sr.ª Blavatsky: – Desde logo. Aquele que é Absoluto, que é Infinito, não pode ter nenhum atributo nem nada, é completamente afilosófico chamá-lo dessa maneira. Não se pode vir estabelecer uma relação com o que é o Absoluto, porque o Absoluto não pode ter nenhuma relação nem nada com que é condicionado, e este deve ser algo completamente à parte. Quando me perguntam como é que isso emana, respondo que não emana. Porque se o Supremo ou Pai Celestial quisesse emanar, fá-lo-ia simplesmente porque é a Lei Eterna, a Lei das Noites e Dias de Brahma, tal como eles falam de Brahma. É o Alento, esse Princípio, essa Lei donde há algo que aparece – o Universo aparece. Digo que este é o conceito mais magnífico e sublime da Deidade.
Sr. –: – A concepção que temos da verdade não é a verdade absoluta. Nós só podemos tomar o que somos capazes de apreender.
Sr.ª Blavatsky: – É por isso que eu digo não haver nada que seja o Absoluto, acerca do qual não devemos especular.
Sr. –: – Mas estamos tratando de falar de coisas para as quais não temos palavras.
Sr.ª Blavatsky: – Neste Plano pode haver especulações, mas não se deve especular sobre aquilo que não tem relação com nenhuma ideia que tenhamos na cabeça. É por isto que os hindus lhe chamam “Isso”, só lhe chamando Obscuridade quando se manifestam os Raios. Então tem-se a Manifestação e a Criação, como eles lhe chamam, a Evolução do Mundo.
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