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NEM TUDO É O QUE PARECE - PARASHAT VAIESHEV E CHANUKÁ 5780 (20 de dezembro de 2019)

NEM TUDO É O QUE PARECE - PARASHAT VAIESHEV E CHANUKÁ 5780 (20 de dezembro de 2019)


Avraham, um judeu norte-americano, estava com muitas dificuldades financeiras. Ele precisava de 50 mil dólares e conseguiu este valor emprestado em um Gmach (instituição que faz empréstimos por bondade). Avraham combinou com o responsável pelo Gmach que pagaria em dez vezes. Ele deixou dez cheques de 5 mil dólares, mas pediu para que não fossem descontados, pois viria todo mês pagar em dinheiro e levaria o cheque. Assim foi durante dois meses. Porém, no terceiro mês, o responsável se confundiu e depositou o cheque dele.


Enquanto isto, Avraham estava viajando de carro em uma estrada distante, pouco movimentada, quando viu que o tanque estava quase vazio. Entrou no posto de gasolina mas, para sua surpresa, quando foi passar o cartão de crédito na máquina, a transação não foi aceita. Imediatamente ele ligou para a empresa do cartão de crédito e descobriu, para o seu desespero, que o cheque de 5 mil dólares havia sido depositado, deixando a sua conta negativa e causando com que o banco automaticamente bloqueasse seu cartão. E agora, como ele faria para reabastecer o carro, no meio do nada, sem nenhum centavo na carteira?
Avraham começou a procurar desesperadamente por algum dinheiro perdido no carro. Procurou no porta-luvas, no porta-malas, embaixo dos bancos. Conseguiu, depois de muito esforço, encontrar 23 dólares. Ele chamou o frentista e pediu para que colocasse vinte e três dólares de gasolina, o suficiente para chegar em casa ou a algum lugar mais habitado. Enquanto o frentista se prepara para encher seu tanque, ele comentou com Avraham que havia visto sua movimentação anormal, abrindo e fechando as portas do carro, e perguntou se estava tudo bem. Avraham contou o que havia acontecido. O frentista ficou maravilhado com a reação de Avraham, afirmando que se o mesmo tivesse acontecido com ele, teria entrado em pânico. Quis saber qual era o segredo para ter mantido a calma.
- Eu tenho fé - respondeu Avraham - Eu sei que tudo aquilo que D'us faz é para o bem. Obviamente fiquei preocupado com o problema, mas com a tranquilidade de que há alguma bondade escondida no que ocorreu.
- Então eu tenho algo que pode lhe interessar - disse o frentista - Eu vendo "raspadinhas da sorte" por 3 dólares. Por que você não coloca apenas 20 dólares de gasolina no carro e compra uma raspadinha?
Avraham pensou um pouco e decidiu arriscar. Quando raspou o cartão, descobriu que estava premiado. Era um prêmio de 50 mil dólares..." (História Real)
O que teria acontecido se Avraham tivesse passado o cartão e a transação fosse aceita? Ele teria seguido a viagem e nunca teria recebido todo aquele dinheiro. O que parecia algo ruim era, na realidade, o início de algo muito bom. Assim devemos enxergar nossas vidas, sempre com olhos positivos e com muita Emuná (fé).
Nesta semana lemos a Parashat Vaieshev (literalmente "E se assentou"), que descreve a história de Yossef, filho do nosso patriarca Yaacov, que passou por muitos altos e baixos em sua vida. Ele foi vendido como escravo ao Egito pelos seus próprios irmãos, acusado de querer roubar a primogenitura, e foi comprado por Potifar, um ministro do Faraó. Acabou tornando-se a segunda pessoa mais importante na casa de Potifar, mas foi injustamente acusado de tentar atacar sua esposa e acabou preso por 12 anos. Da prisão, ele saiu para interpretar os sonhos do Faraó e se tornar o vice-rei do Egito.
Porém, precisamos nos aprofundar na história de Yossef. Se pudéssemos congelar a cena dele sendo acorrentado e levado como escravo ao Egito, o maior centro de idolatrias e promiscuidade da época, certamente enxergaríamos como sendo algo muito ruim, uma terrível tragédia. Yossef havia sido vendido pelos seus próprios irmãos e ficaria longe de seu querido pai, em uma terra estranha. Será que havia algo de positivo no que estava acontecendo?
Já na Parashat Vaigash, que lemos daqui a duas semanas, há outra cena marcante. Yossef finalmente se reencontra com o seu pai. Se também pudéssemos congelar esta cena, certamente enxergaríamos como algo muito bom, uma imensa alegria. Pai e filho estavam se reencontrando após 22 anos. Naquele momento Yossef já havia se tornado um homem muito poderoso, o vice-rei do Egito, e Yaacov foi tratado com todas as honras reais. Será que havia algo de negativo no que estava acontecendo?
A resposta é que da história de Yossef aprendemos como somos limitados e o quanto não enxergamos as bondades de D'us quando elas parecem ocorrências negativas aos nossos olhos, e o quanto não percebemos que o que parece ser bom aos nossos olhos pode ser, na realidade, algo que terá futuras consequências negativas.
A venda de Yossef parecia realmente ser algo muito ruim e negativo. Porém, na realidade, era a preparação para que ele viesse a se tornar a segunda pessoa mais importante no comando do Egito. Ele se tornaria o encarregado de administrar a economia do país e o responsável por estocar comida nos anos de fartura para os anos de fome que assolariam a Terra de Israel e o Egito. Foi por causa de sua venda como escravo que Yossef pôde alimentar seu pai e seus irmãos durante os anos de fome, garantindo a continuidade do povo judeu.
Ao contrário, quando Yaacov foi ao Egito para se reencontrar com Yossef, o que parecia ser algo muito bom, era, na realidade, o início da terrível escravização do povo judeu, um processo doloroso que duraria 210 anos e seria uma época de muita tristeza e sofrimento.
Os seres humanos sofrem de uma terrível doença, a "Síndrome do buraco da fechadura". Vemos as ocorrências em nossas vidas de forma limitada, como alguém que entende o que ocorre dentro de uma casa olhando apenas através do pequeno buraco da fechadura. Não é provável que esta pessoa chegará constantemente a conclusões equivocadas em relação ao que realmente está acontecendo dentro da casa? Da mesma maneira, nenhum ser humano possui o conhecimento infinito que lhe permite conhecer as consequências finais de cada ação. Portanto, quando uma situação aparenta ser extremamente negativa, não devemos nos desesperar, pois D'us está preparando algo muito bom para o futuro. De modo semelhante, quando as coisas aparentam estar indo muito bem, não devemos nos tornar arrogantes, pois não sabemos o que o futuro nos reserva.
Ao internalizar esta atitude, evitaremos muitos sofrimentos desnecessários. Por exemplo, uma grande fonte de sofrimentos são as situações nas quais tudo parece dar errado. Devemos sempre confiar em D'us e dizer para nós mesmos diante de uma situação difícil: "Provavelmente verei no futuro como o que está acontecendo agora foi bom para a minha vida". Esta atitude de equilíbrio também nos ajuda a evitarmos um sentimento de euforia extrema quando as coisas aparentam estar indo muito bem, pois a euforia facilmente leva à depressão caso a situação mude no futuro. Ao evitar reações extremas, seremos capazes de lidar melhor com as instabilidades da vida. Esta foi a receita de Yossef, que nunca se desesperou diante das dificuldades e nunca permitiu que o sucesso subisse à sua cabeça quando estava no topo.
O Chafetz Chaim zt"l (Bielorússia, 1838 - Polônia, 1933) dizia que as pessoas se enganam muito ao ficarem sempre reclamando dos acontecimentos em suas vidas, pois se fossem pacientes, veriam como as coisas são realmente para o seu benefício. Ele contava o caso de um rabino que precisou abandonar a cidade onde vivia devido a uma briga que ocorreu lá. Sem escolha, ele precisou morar em uma cidade pequena, muito diferente do que havia planejado para sua vida. Por anos ele ficou questionando aquele acontecimento, procurando os motivos pelos quais ele precisou sair de sua cidade e ir para um lugar estranho. Anos mais tarde ficou claro que sua mudança para aquela cidade teve um efeito muito positivo na educação dos seus filhos, que não estavam tendo um bom comportamento na cidade grande. À primeira vista parecia ter sido algo ruim, mas, com o tempo, verificou-se que aquela mudança foi o melhor que poderia ter ocorrido. De forma similar, quando o Rav Israel Salanter zt"l (Lituânia, 1810 - Prússia, 1883) estava doente e alguém perguntava se ele estava melhor, ele respondia: "Que diferença faz se a situação está melhor ou pior? O que D'us deseja é sempre o melhor".
Este conceito se conecta com a próxima Festa do Calendário Judaico, Chanuká, quando revivemos dois grandes milagres: o óleo da Menorá, suficiente para um único dia, mas que durou 8 dias, e a vitória na batalha contra os gregos, o maior império da época. Porém, como pode ser que D'us, em Sua bondade infinita, permitiu que os gregos dominassem Jerusalém e impurificassem o nosso Beit Hamikdash (Templo Sagrado)? Onde estava a bondade neste caso? A resposta é que, olhando só para aquele momento, realmente a bondade parece não existir. Porém, olhando também para o passado e o futuro, tudo fica claro. O povo judeu estava caindo espiritualmente cada vez mais, em um lento processo de assimilação, que certamente levaria ao fim do judaísmo, como ocorreu com tantos outros povos que se assimilaram e desapareceram. Mesmo as pessoas que cumpriam as Mitzvót faziam sem um brilho nos olhos. Então chegaram os gregos e, com violência, proibiram os judeus de cumprir as Mitzvót. Os judeus, antes tão sonolentos e sem vontade, se levantaram como leões e lutaram pela Torá e suas Mitzvót, dispostos a entregar suas próprias vidas. A invasão dos gregos, portanto, foi algo bom, pois despertou o povo judeu e o trouxe de volta ao caminho da Torá.
A preocupação vem de acharmos que somos nós que estamos no comanda da situação. A tranquilidade vem de sabermos que é D'us quem está sempre no comando de todas as situações e que tudo é fruto da Sua bondade infinita, de Alguém que conhece presente, passado e futuro, e que sempre quer o melhor para cada um de nós.

SHABAT SHALOM E CHANUKÁ SAMEACH

R' Efraim Birbojm


NEM TUDO É O QUE PARECE - PARASHAT VAIESHEV E CHANUKÁ 5780 (20 de dezembro de 2019)
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