O Rito Escocês Antigo e Aceite
O Rito Escocês Antigo e Aceite
caracteriza-se pela aliança entre a Razão e a Fé; não da Fé numa verdade
revelada, mas num Princípio superior a todas as coisas, a que nós chamamos
Grande Arquitecto do Universo, que as rege segundo leis imutáveis e
suficientemente fortes para criar uma ordem dentro de um conjunto de elementos
confusos. Segundo esse Princípio ordenador, o maçon esforça-se por conformar-se
a uma ordem, por actuar de acordo com umas regras para criar o seu Templo
interior. Através da Razão e da Fé, acede ao sagrado. É assim como se enquadra
a iniciação: o adepto não trata, como o demiurgo neoplatónico ou gnóstico, de
dominar a natureza e transformar o mundo, mas de aprender a dominar a sua
natureza e transformar-se a si mesmo para ver o mundo de outra maneira.
Mediante uma ascensão que o leva
até ao transcendente, o maçon consegue espiritualizar a sua maneira pessoal de
sentir a sua pertença ao universo. Essa maneira pessoal produz-se primeiramente
pela apreensão dos pequenos mistérios que colocam o Homem no caminho de uma
busca ampliada até si mesmo e aos seus semelhantes. Graças ao estudo dos
utensílios simbólicos, pode conhecer melhor os elementos constitutivos da sua
existência. Chega gradualmente a saciar a sua ignorância original, aprendendo
que o trabalho ajuda a corrigir os seus defeitos e os seus erros. Com isto toma
consciência do valor da sua própria existência, que aprende a venerar como bem
inalienável que deve cultivar com esmero. Se este processo se realiza
adequadamente, segundo os preceitos do ritual, dar-se-á conta de que ele é o
resultado de uma Vontade que o ultrapassa, independentemente da sua própria
vontade. Há nisto um princípio de aproximação ao metafísico que permite que ele
adquira o sentido do sagrado.
Dá conta, então, de que pertence
a um mundo mais vasto, representado pelo universo, que não consiste somente
numa série de fenómenos individuais, causas e efeitos uns dos outros, segundo
leis mais ou menos compreensíveis. Noutras palavras: compreende que ocupa um
lugar que lhe foi consignado pela sua afinidade mística com tal região do
espaço e do tempo. É então o momento em que está pronto para ir mais além dessa
primeira consciencialização que o levará, pouco a pouco, até aos grandes
mistérios. Tal é o ensinamento do Rito Escocês, que propõe uma reflexão sobre o
Homem como ser individual e social, como ser cultural e espiritual. Esta
reflexão traduz as preocupações permanentes do Homem confrontado consigo mesmo,
com a sua natureza, com o seu devir e o seu destino diante dos problemas da
liberdade e da justiça, da vida e da morte, da beleza e do amor. Deste modo,
pode o Irmão, com plena liberdade de consciência, isto é, com pleno conhecimento
de causa, entregar-se à sua busca da verdade e da justiça através de um ideal
de melhor bem estar material e moral da humanidade. Assim pode continuar fora a
obra começada no Templo.
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