A presença de figuras políticas com passado maçónico volta a emergir no centro do poder. Uma investigação da CNN Portugal, confirmou que pelo menos três ministros e quatro secretários de Estado do Governo de Luís Montenegro tiveram ligações diretas a obediências maçónicas, algumas há mais de duas décadas.
Segundo a mesma fonte, os nomes de Ana Paula Martins, Miguel Pinto Luz e Pedro Duarte constam entre os que, em diferentes momentos das suas carreiras, participaram em rituais maçónicos ou integraram lojas discretas como a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP) e a Grande Loja Feminina de Portugal. Muitos desses vínculos cessaram há anos, mas a coincidência entre passado iniciático e presente governativo reacendeu o debate sobre influência, transparência e poder.
Entre os secretários de Estado, quatro teriam passado pela GLLP: Hernâni Dias, Pedro Machado, Adriano Rafael Moreira e João Moura. De acordo com a investigação, apenas dois mantêm atividade maçónica formal. Outros afastaram-se, reconhecendo que a pertença “foi breve e pessoal”, sem ligação política.
No panorama atual, a Grande Loja Legal de Portugal parece ter herdado um protagonismo outrora reservado ao Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga obediência maçónica portuguesa. A estrutura, de tradição liberal e laica, perdeu peso nos últimos governos, enquanto as lojas regulares, herdeiras do modelo anglo-saxónico, atraíram quadros intermédios de ambos os partidos do sistema — PSD e PS.
Segundo a CNN, o atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, chegou a ser apontado como convidado em jantares da Loja Mozart, no início da década passada. O então deputado social-democrata negou qualquer filiação, mas reconheceu ter participado em encontros públicos.
O chamado “Projeto Mercúrio”, iniciado em 2004 no seio da GLLP, terá sido um dos mecanismos de recrutamento de jovens promissores de várias áreas políticas. A estratégia visava criar pontes de influência mútua e, segundo alguns ex-membros, reforçar a presença maçónica em cargos de decisão.
A investigação indica que esse movimento envolveu figuras dos dois maiores partidos: Miguel Pinto Luz e Pedro Duarte, pelo PSD, e Duarte Cordeiro, Francisco César e Francisco André, pelo PS. Todos terão partilhado rituais nas mesmas lojas antes de se afastarem das obediências.
Embora Pedro Nuno Santos nunca tenha sido iniciado, o líder socialista participou em eventos promovidos por maçons da Grande Loja Soberana de Portugal, ligados a um clube empresarial que chegou a ser investigado pelo Ministério Público.
As ligações maçónicas não se limitam ao Governo e à oposição. Segundo a mesma investigação, altos cargos da administração pública — entre eles o diretor da PSP, Luís Carrilho, e o ex-presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues — também integraram lojas da GLLP. O último, hoje membro da Loja Astrolábio, continua ativo na rede simbólica da organização.
Fontes internas descrevem a maçonaria como um “espaço de fraternidade e reflexão” que muitos abandonam quando a vida política se intensifica. Contudo, as ligações persistem nos registos e nas memórias dos templos, tornando-se ciclicamente matéria de investigação jornalística e de desconfiança pública.
A revelação volta a levantar a mesma questão que atravessa décadas de democracia portuguesa: até que ponto a maçonaria, mesmo discreta, permanece presente nas estruturas do Estado?

Comentários