Uma história de guerras e jogadas de bastidores
Já houve chapadas e muitos insultos. E quem acusasse os Irmãos de serem vingativos. Os programas eleitorais também deixam marcas para sempre.
A corrupção alastrava, o compadrio sobrepusera-se ao mérito e as multinacionais ditavam as leis. As televisões criavam factos políticos e impunham a obscenidade. E até os partidos já eram só máquinas de conquista de poder e agências de emprego. Em 2002, este angustiado diagnóstico do estado da sociedade marcou a declaração de princípios do programa eleitoral de António Arnaut, advogado, ex-ministro dos Assuntos Sociais do II Governo liderado por Mário Soares (1978) e candidato a grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL).
Na altura, Arnaut teve dois adversários [...]
A investidura do novo Grão-Mestre aconteceu a 27 de Setembro, na sede do GOL. Para assistir à cerimónia, estiveram em Lisboa, entre outros, Marc-Antoine Cauchie, presidente do CLIPSAS, a maior organização mundial da franco-maçonaria liberal e não dogmática. E, entre outras, as delegações da Ordem Maçónica Internacional Delphi (Grécia), da Grande Loja de Itália, do Grande Oriente do Luxemburgo, da Grande Loja Liberal da Turquia, do Grande Oriente da Bélgica, do Grande Oriente de França, do Grande Oriente Ibérico (Espanha) e da Confederação Maçónica Brasileira.
No Bairro Alto estiveram ainda centenas de maçons portugueses vindos de todos os pontos do país, que ouviram António Reis anunciar a boa nova: três dias antes, tinha sido feita a escritura notarial que constituía finalmente a Fundação Grande Oriente Lusitano - "da qual todos, sublinho bem, todos os Mestres Maçons são membros."
Dentro do templo, António Reis estava prestes a exigir o reforço da presença solidária da maçonaria em Portugal e no Mundo, mas lá fora, nas ruas estreitas do Bairro Alto e logo após o almoço, vários maçons assistiram incrédulos a mais um episódio que lhes lembrou que o fim das eleições não tinha pacificado a Irmandade.
Depois de uma breve troca de palavras sobre o majestático trono dos altos graus onde se sentara João Alves Dias durante a cerimónia da manhã, o Soberano Grande Comendador do Grau 33 agrediu o candidato derrotado Filipe Frade com uma bofetada na cara. Os óculos do velho coronel partiram-se no chão. Menos de oito meses depois, Filipe Frade, e dois outros maçons, Manuel Oliveira Lima e Vítor Gonçalves da Costa, todos da Loja Delta, souberam que tinham sido suspensos da maçonaria pelo Grão-Mestre António Reis.
A acusação, que não falava do caso passado com João Alves Dias, referia apenas o que classificava como "(…) considerações ofensivas para os órgãos actuais e imediatamente anteriores da N.´.A.´.O.´. (…); ofensas dirigidas à honra e consideração do Sap.´. Grão-Mestre e membros do Conselho da Ordem." E se dúvidas houvesse sobre a origem da guerra maçónica, o decreto de António Reis tirava-as de imediato lembrando que o alegado comportamento antimaçónico era semelhante ao ocorrido durante a "última campanha eleitoral protagonizada pelo Irmão Filipe Frade".
Depois da reeleição de António Reis, Filipe Frade e vários apoiantes continuaram a ser vistos como opositores, sobretudo porque mantinham a contestação ao projecto da fundação e defendiam a independência dos Altos Graus do Rito Francês – Filipe Frade, Manuel Lima e Vítor Costa chegaram a constituir por escritura pública, a 14 de Dezembro de 2007, a associação Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa Cruz, Grande Capítulo Geral do Rito Francês em Portugal, com sede provisória no Grémio Lusitano.
Na maçonaria irregular portuguesa, a posse da carta patente do rito francês, que fora outorgada em 1804 pelo Grande Oriente de França aos Cavaleiros da Rosa Cruz, nunca foi pacífica para muitas lojas maçónicas e o Conselho da Ordem liderado por António Reis. Na prática, a intrincada questão resumia-se em saber quem tinha legitimidade para mandar em Portugal nestes altos graus minoritários no GOL.
A confusão interna foi tanta que, em Abril de 2009, o site oficial do Soberano Grande Capítulo publicou na internet os nomes de 13 maçons que tinham acabado de ser irradiado – a exposição também consta na queixa que o Grão-Mestre António Reis apresentou contra o anterior adversário, Filipe Frade, apesar da divulgação das expulsões ter ficado limitada à Irmandade, porque o site oficial do Soberano Grande Capítulo só permitia a entrada através de uma palavra-chave distribuída apenas a maçons.
Segundo as regras internas do GOL, o processo disciplinar foi comunicado pelo Grande Secretário, Manuel Oliva, ao Grande Tribunal Maçónico, que nos 30 dias seguintes, concretamente a 4 de Junho de 2009, concordou com a suspensão provisória dos Irmãos. Imediatamente, Filipe Frade, Manuel Lima e Vítor Costa deixaram de poder frequentar os templos maçónicos ou simplesmente entrar na sede do Bairro Alto.
Quando isso aconteceu, vários maçons previram o que poderia acontecer. Mas só tiveram a certeza absoluta quando o Conservador Geral de Justiça, José Luís Forte, se limitou a enviar o expediente do processo para o Grande Tribunal Maçónico. A 1 de Fevereiro, os maçons suspensos contestaram o que consideravam ser o lavar de mãos do Conservador - "Promovendo uma tentativa de conciliação em que os ofendidos são (potencialmente) chamados à mesma (se algum dia esta se realizar!... o que dados o antecedentes de recusa de diálogo por parte do Grão-Mestre/Conselho da Ordem se duvida) com o peso da corda no pescoço, que é ao que conduz a situação de suspensão ilegal em que se encontram." Acertaram em cheio. Quase três anos depois, em Setembro de 2012, já durante o novo Grão-Mestrado de Fernando Lima, a suspensão provisória ainda se mantinha.
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Estas notícias deixam todos os maçons intranquilos, preocupados e tensos, pois a Maçonaria em geral sabe que o que não for para uns Irmãos, não será bom para ninguém. Convém, pois, que estas situações possam ser rapidamente ultrapassadas.
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