A LUZ COMO SÍMBOLO DA VERDADE NO GRAU DE CAVALEIRO DO SOL
Autor: Tiago Valenciano
Na história da filosofia – talvez a primeira disciplina que sistematizou e organizou o conhecimento humano, podemos visualizar diversas passagens de que a luz é símbolo de conhecimento, de sabedoria. Se passarmos por um período ruim, significa que as trevas chegaram; se este momento ruim se vai, a luz retorna para iluminar a vida, dando claridade àquilo que estava obscuro. Até mesmo um período histórico foi denominado “período das trevas” na idade média, quando após o declínio do Império Romano, houve um desarranjo cultural e econômico na Europa – e, pelo período seguinte, foi dado o nome de renascimento.
Em nosso cotidiano, a luz assume o papel de clarear, de proporcionar felicidade e está sempre ligada aos bons momentos. Se o clima está chuvoso, escuro, significa que o dia não é bom. Se há interrupção no serviço de luz e energia, logo preparamos uma vela para a luz reacender. E, se por acaso tiramos férias do trabalho, procuramos um local que haja sol, como, por exemplo, uma praia ou estância.
Não é preciso enumerar exemplos em relação à luz como sinônimo de alegria, de paz, de felicidade. O próprio espírito humano se encarrega disto, como acima demonstramos. Na maçonaria, a alusão à luz não é diferente: quando o candidato é iniciado, ele recebe a luz, isto é, sai da obscuridade do mundo profano e, após cumprir suas viagens, tem restabelecido o direito de receber a claridade.
São diversos os momentos iniciáticos em que a maçonaria recorre à luz para caracterizar a passagem dos graus. Até que, ao chegarmos ao grau 28 (Príncipe Adepto ou Cavaleiro do Sol), a iluminação passa a entoar até mesmo o nome do próprio grau. Considerando este princípio, questionamos: qual é o papel do Sol neste grau do Rito Escocês Antigo e Aceito?
A tese apontada neste trabalho funda-se que o Sol é, pelo símbolo de iluminação que tem – e sua função própria, um sinônimo da verdade. Nosso argumento baseia-se na situação em que o Sol se apresenta (trazendo claridade) em relação ao simples conceito de verdade, que significa a concepção clara de alguma coisa ou situação ou a realidade das coisas.
Entre os filósofos e estudiosos da razão, não há uma concepção exata sobre o que a verdade é. Pelo visto, tal definição é algo estabelecido culturamente, isto é, constituído conforme cada sociedade a vê em cada ocasião, se formando ao longo dos anos. Inegável é que a verdade e a crença estão lado a lado e, juntas, quase fundidas, formam o conhecimento, um dos ideais da maçonaria repetido por muitos pesquisadores da instituição: vê-la como uma formadora de conhecimentos, ou seja, enxergar a maçonaria como uma escola de conhecimento.
Segundo as teorias da verdade existentes, o grau de Cavaleiro do Sol preza pela “verdade por correspondência”, isto é, àquela que pode transformar uma banalidade, algo corriqueiro de nosso cotidiano, em uma teoria da verdade interessante. Aristóteles disse que “uma afirmação é verdadeira se diz do que é que é, e do que não é que não é (Metafísica, Iv. 1011)”, sinalizando que a relação entre a correspondência e o fato pode gerar esta interessante teoria sobre a verdade.
A teoria da verdade como correspondência é uma das mais aceitas na filosofia e, por seu caráter direto, torna-se mais fácil de ser absorvida ao olhar comum. Segundo esta teoria, uma proposição para ser verdadeira deve ter correspondência, isto é, relação entre a proposição e a realidade existente no mundo. Assim, podemos visualizar uma concepção teórica empírica, não dispersa entre os livros acadêmicos e o saber intelectual, mas sim relacionada diretamente com os fatos cotidianos.
Neste sentido, a verdade é dos passos a ser dado na busca do conhecimento maçônico. A teoria da verdade como correspondência surge nas explicações sobre o grau 28, Cavaleiro do Sol, quando relembramos que o objetivo do grau era o culto do sol e da verdade. Tal cultivo ocorria pelos antigos pela iniciação, um ritual destinado à busca pelo conhecimento da natureza e o que dela pode ser útil ao homem e à civilização.
O papel do Sol no grau de Cavaleiro do Sol relaciona-se, portanto, diretamente com a verdade: se há sol, há a iluminação, saindo da obscuridade e buscando-se a verdade; do mesmo modo, se há verdade, foi necessário procurar no cotidiano algo que correspondesse àquilo que tínhamos como ideal de verdade, iluminada pelo sol para melhor enxergá-la.
Pelo exposto, é possível afirmar que o Sol é um símbolo da busca pela verdade, que pode nos conduzir ao conhecimento. Por intermédio do grau 28, podemos continuar na busca pela verdade, que conforme dito é um dos princípios da maçonaria presente em diversos ritos e rituais. Resta-nos, como maçons da atualidade, ir além da procura pela verdade, mas sim formar um conhecimento, algo que perpetue para as gerações futuras e possa ser sempre objeto de estudo, um legado de iluminação do saber pelo sol para a eternidade.
REFERÊNCIAS
Blakcburn, S. Dicionário de Oxford de Filosofia. Trad. Danilo Marcondes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
SUPREMO CONSELHO DO GRAU 33 DO REAA DA MAÇONARIA PARA A REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Ritual do Gr. 28 – Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto e Graus Intermediários. Rio de Janeiro: SC33, 2003.
| NEWS | MYFRATERNITY | MAÇONARIA | MASONIC PRESS AGENCY |
|| www.myfraternity.org ||
Comentários